quinta-feira, 5 de junho de 2014

Amor com amor se paga

 
 
Ontem tinha uma reunião marcada às três da tarde em Leiria.
Saio em passo acelerado do escritório às duas. Sei que não vou chegar a tempo, mas não faz mal. A esta hora não há trânsito, vou chegar apenas um pouco atrasada. Não almocei, tenho fome, mas não faz mal. Talvez dê para parar numa área de serviço e comer uma sandes de panado, atulhada em maionese, é mesmo o que me está a apetecer.
Chego à rua, procuro o arrumador a quem deposito todos os dias fielmente a chave do meu veículo, umas moedas, para que ele me controle os sacanas senhores da emel (que enfim, eu sei que estão só a cumprir a sua função laboral) à cata de multa. O arrumador não está. Dou uns quantos sopros, bufo literalmente, já o avisei que se ausentar, não se esqueça de me deixar a chave, para que não fique apeada. O arrumador dos cem metros mais abaixo, deve ter sentido em mim uma inquietação, quiçá uma ligeira aragem provocada por tanto sopro, e vem ao meu encontro. O rapaz foi só almoçar, está na sua hora de almoço, pois claro, diz-me isto com o ar mais descontraído do mundo, eu olho para o relógio, penso que afinal vou chegar muito atrasada, e talvez seja melhor enfiar qualquer coisa já pelo bucho abaixo, e ver o panado por um canudo.
Entro no café, peço uma empada de carne picada, empurro tipo enfarta brutos, pode ser que o arrumador tenha voltado, não posso perder mais tempo. O arrumador voltou, olho para ele com ar de fuzilamento, ainda a empada a meio caminho do estômago, oh dona, já viu as horas? estou na minha hora de almoço. Pois, desconhecia o horário laboral, mas tínhamos combinado outra coisa, e estás-me a falhar como as notas de cinco mil (embora também já não hajam notas de cinco mil, e eu ainda use expressões do século passado, isto tudo à mistura, a minha arrelia, o meu toque vintage).
Entro no carro, peço ao meu colega para o conduzir, enquanto despacho um e-mail via telemóvel. Já passa das três, recebo um telefonema, vejo que é a minha reunião e nem dou tempo que me falem, estou a caminho, digo num ápice, quanto tempo vai demorar, perguntam-me. Olho para a autoestrada, vinha distraída com o e-mail, não faço ideia de quanto já percorri. Vejo a estação de serviço de aveiras, e atiro: vinte minutos. Começo a pensar na quantidade de quilómetros que separam aveiras de leiria. São muitos, tantos quanto a minha mentira. O meu colega olha-me de soslaio, e pergunta-me, prego a fundo? Digo que sim, enfio a cabeça no telemóvel, mais vale ir distraída (e pensar que não há brigadas a esta hora).
Chegamos com quarenta minutos de atraso. Peço desculpa, vamos diretos ao assunto, chegamos a um acordo, que para ser finalizado, marcamos novo encontro para hoje de manhã. Desta vez em lisboa. Deslocar-se-á ele. Diz-me entre as nove e meia/dez, vai fazer por não chegar atrasado, pergunto-lhe a rir e em tom de brincadeira mas ainda assim com uma grande lata se é alguma indireta ao meu atraso, é que apanhámos um transito infernal para sair de lisboa, ele ri também e diz que não, que percebe perfeitamente estas coisas dos engarrafamentos.
Hoje, deixa-me pendurada até ao meio dia. Desculpa-se, sabe como são estas coisas, e eu que sim, que sei bem.
 
Toma lá que é para aprenderes.

1 comentário:

  1. O que vale é que nós, pachorrentos portugueses, não levamos a mal um atrasosinho. Nem um atrasosão. :-)
    Espero que tenham fechado bons negócios!
    Beijinhos,
    Susana

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