terça-feira, 11 de março de 2014

Sabes que estás a ficar mais velha... III

Sabes que estás a ficar (mais) velha, quando a tua família chegada começa a partir de velhice.
E hoje partiu (mais) um tio avô. Já me restam poucos, e eram muitos, que naquela época (e apesar da crise - essa eterna malvada) no mundo em que viviam não havia planeamento familiar e os filhos eram  (muitas vezes) vistos  como mais um par de mãos para trabalhar (assim me conta o meu avô, nascido no meio rural, há quase um século).  
Hoje perdi mais um tio avô. Daqueles chegados, chegados à alma, chegados ao coração. O tio que me viu crescer, e que eu  vi envelhecer. O tio que me viu crescer, mas que há muito  não me via a mim envelhecer também. Não me reconhecia como sua sobrinha, e há muito que  me cumprimentava como se da primeira vez se tratasse. Foi tomado por esse cabrão do Alzheimer, deixando para trás uma vida de memórias.
Hoje perdi o tio avô. Tenho em mim que estará neste momento na companhia da minha avó, e que estarão a pôr a conversa em dia, quiçá numa acesa discórdia, como era seu apanágio. Tenho em mim que estará com a minha avó, e por isso tenho em mim que estará bem.
Sabes que estás a ficar (mais) velha quando o teu castelo de histórias antigas, de memórias passadas,  começa a ficar empobrecido.
Hoje perdi o tio avô. E hoje o meu castelo ficou mais pobre.
  

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