terça-feira, 18 de março de 2014

Dou graças

E os dias passam.
A correr.
É a correr que me levanto e preparo as lancheiras deles. Almoço (que deixo já feito de véspera, não fosse assim, e enlouquecia), prato, talher, lanchinho da manhã, lanche da tarde, fruta (que por norma regressa a casa, não intacta, mas muito mais madura), e entretanto ela, a rapariga, já rodopia entre o quarto dela, e o meu, para mais um vislumbre no espelho e a confirmação de que está tudo no sítio, as cores combinam, os ténis estão velhos, e a precisar de uns novos (não obstante o armário cheio), as calças estão largas (porque eu as alarguei - é a desculpa do dia, agora) e a precisar de umas novas, e é no meio desta adiantada azáfama que ele, o rapaz, se levanta, se veste, prepara a sua mochila, leva o cão à rua, chegando sempre com a má notícia "não fez nada", come e se senta à espera de sair de casa.
É no meio desta azáfama que constato que o stock de lanches acabou, não há leites com chocolate, nem iogurtes, nem croissants, nem mais nada, e que o papel higiénico também parece que se evaporou, e recorremos aos guardanapos de papel que também estão a acabar, e peço um rolo à vizinha (nada como ter uma BFF a viver mesmo ali), e penso que hoje sem falta, tenho de passar no supermercado.
Antes de sair de casa, e porque a BFF me fez (mais uma vez) o favor de os levar à escola, faço as camas, arrumo pijamas largados no chão, coloco a roupa suja do dia anterior na tulha, decido estender a roupa que deixei a lavar durante a noite, mas antes apanho a que está seca desde ante ontem. Olho para o cesto da roupa passada, também de ante ontem, e decido arruma-la. À noite hei-de precisar do cesto vazio, porque decido que com a que apanhei, mais a que estendi e que vai estar seca logo, o monte não vai caber na lavandaria e há que dar cabo dele rapidamente.
E meio da manhã passou a correr.
Saio de casa.
A correr.
Está sol, já me sinto cansada, e penso no tempo das vacas gordas, em que não tinha de me preocupar em ser (quase) cem por cento fada do lar, porque chegava a casa, e tinha tudo imaculadamente feito. Mas está sol, e dou graças por não ter de cumprir horários, porque em tempo de vacas magras, não fosse assim, e não sei em que estado estaria aquela casa.
Chego ao escritório.
A correr. 
Penso no que tenho para fazer e que dia é hoje. Não posso sair tarde, porque hoje é dia de futebol e de explicação, e lembro-me que a tarefa do pai, que é ir buscar, hoje está por minha conta.
Penso que não sei onde vou encaixar o supermercado no dia de hoje, lembro-me que não deixei nada para fazer para o jantar, que vou chegar perto das nove da noite a casa, e que uns frangos assados podem ser solução. Penso que ela vai ter exame intermédio de matemática, e que as explicações se vão estender pelo resto da semana, que ele vai ter três testes , e que me vai pedir ajuda, e que o monte da roupa se vai acumular. Penso que no meio disto tudo não tenho tido tempo de educar um cão criançola e porcalhão, e que a minha casa já começa a cheirar ao bicho, e penso que está sol e me apetece descontrair. Penso que falta ainda algum tempo para férias, e que até lá, tenho de dar graças pelo sol (tão bom para secar roupa...), e tenho de conseguir fazer tudo, (se possível) com boa disposição, mesmo que seja a correr.
A correr, dou graças.
 
 
 

Sem comentários:

Enviar um comentário